quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Cinema - Jack Valenti e a história da MPAA (Parte V - A influência do sistema actual em Hollywood)

Em termos legais, o sistema de classificação é meramente voluntário. Os principais estúdios de cinema concordaram, no entanto, em submeter todos os seus filmes à MPAA, sendo poucos os produtores que contornam esse aspecto e os lançam directamente nos cinemas. A reduzida quantidade de filmes que não é classificada (designados por filmes “unrated”) tem muito poucas hipóteses de ganhar uma quantidade considerável de dinheiro. Mesmo que um estúdio submeta o seu filme à MPAA, isso não garante que não ocorram problemas na distribuição do mesmo e, consequentemente, a nível das receitas.

O principal problema nesse aspecto tem a ver com a classificação NC-17, que é carinhosamente apelidada “o beijo da morte da MPAA”. Os filmes com essa classificação (na esmagadora maioria das vezes, a classificação deve-se ao conteúdo sexual e não à violência) não podem ser publicitados em muitos mercados, não podem ser exibidos em muitas cadeias de cinemas e também não ser obtidos em DVD em muitas lojas.

Quando um filme é submetido a classificação e recebe um NC-17, os produtores do mesmo têm as seguintes opções: remover as partes mais “problemáticas” do filme do ponto da vista da MPAA (comprometendo no processo a liberdade criativa do realizador e/ou argumentista), submeter o filme a nova classificação (cerca de 15 % dos filmes são aprovados sem cortes após revisão) ou decidir lançar o filme na sua versão original (garantindo assim uma reduzida quantidade de dinheiro obtido nas bilheteiras).


Como podem perceber, a MPAA é uma organização muito poderosa e muito secreta. Os desconhecidos (em número e em identidade) que analisam os filmes têm uma enorme influência na maneira como esses são feitos, publicitados e distribuídos. Termino esta análise com um exemplo real de como a MPAA condiciona o mundo do cinema:

- American Psycho (2000) foi um dos filmes mais controversos do ano. O filme recebeu um NC-17 por conteúdo sexual (e não pela extrema violência → mais um exemplo de que Ebert e muitos outros estavam certos) e Mary Harron, a realizadora, disse que não ia alterar nada do filme. Contudo, pressionada pela possibilidade de “fecharem as portas” ao seu filme e o condenarem ao esquecimento e ao fracasso financeiro, Harron mudou de ideias e fez alguns cortes no filme. O filme recebeu mais tarde a classificação R e pode ser distribuído e publicitado sem restrições.

Sem comentários: