Nota: 5/5 (Muito Bom)
Realizador: Oliver Stone
Argumento: Oliver Stone e Zachary Sklar
Elenco: Kevin Costner, Tommy Lee Jones, Kevin Bacon, Gary Oldman, Sissi Spacek, Michael Rooker, Jay O. Sanders, Donald Sutherland entre outros
Género: Drama/Mistério/Thriller
Duração: 189 minutos
Recorrendo a uma edição e a uma cinematografia primorosas, Stone consegue “colar” uma quantidade enorme de informação num só filme, como se se tratasse de um gigantesco puzzle. Quer se trate de cenas a preto e branco (que recriam acontecimentos que poderão ou não ter acontecido), fotos, vídeos de 8, 16 e 35 mm ou imagens a cores, todos esses meios visuais são utilizadas para estabelecer as bases do filme e definir a complexa relação que existe entre o elevado número de personagens que populam o universo criado por Stone. O realizador não acredita em todas as teorias do verdadeiro Garrison (que curiosamente aparece no filme desempenhando o papel do líder da Comissão Warren!!!) e por isso expõe, através da personagem Jim Garrison, as suas próprias opiniões sobre o que realmente aconteceu, usando muitas vezes informação que só foi obtida depois do período que é retratado no filme.
Á medida que a investigação avança, Garrison e a sua equipa começam a desmistificar o papel de Oswald no homícidio, relegando-o para um plano secundário, considerando-o como um simples peão num complexo e gigantesco jogo de xadrez. Com o passar do tempo, a sua investigação torna-se pública e as suas conclusões afastam-se cada vez mais da versão oficial. Garrison e a sua equipa sofrem intimidações, recebem ameaças de morte e a sua credibilidade pouco a pouco vai sendo destruída.
Cresce a desconfiança entre os próprios membros da equipa, mas Garrison não desiste de procurar a verdade, mesmo que durante esse processo esteja a afastar-se cada vez mais da sua família (que não aceita a sua obsessão com o homicídio e sente a falta do que até então era um dedicado pai de família). Pouco a pouco, as fontes mais importantes de informação vão sendo eliminadas e Garrison vê-se obrigado a acusar Clay Shaw (um conhecido empresário de New Orleans e um dos suspeitos principais desde o início da investigação) de participação na conspiração para matar o presidente.
Garrison obtém também informações de um indivíduo que se auto-intitula X, que lhe diz ser um ex-militar que esteve envolvido em muitas operações clandestinas do governo americano desde a 2º Guerra Mundial. O que essa personagem conta a Garrison fá-lo perceber a real magnitude da conspiração e entender como o mandato de Kennedy na Casa Branca constituiu uma poderosa ameaça ao poder instituído, o que terá causado a sua morte, morte essa que teve no escalar da guerra do Vietname (onde morreram cerca de 58 mil soldados americanos) a sua consequência mais trágica.
No julgamento, Garrison faz um resumo de tudo o que foi descoberto pela sua investigação, tentando reescrever a história, com o intuito de que os verdadeiros responsáveis pela morte de Kennedy sejam, mais tarde ou mais cedo, acusados pelos seus crimes. É importante realçar novamente que uma quantidade considerável da informação fornecida no filme não foi provada, é falsa ou então resulta de simples especulação, mas afinal de contas não se trata de um documentário (usando as palavras do crítico Roger Ebert: “Em geral, sou da opinião que os filmes constituem o local errado para a exposição de factos”). O filme é um “casamento” fascinante entre facto e ficção, onde o que interessa reter é o seguinte: que o povo americano e o mundo foram enganados e que o conceito de Justiça foi propositadamente esquecido, tudo com o objectivo de permitir a satisfação de homens sedentos de poder, que têm ao seu dispor meios mais do que suficientes para atingirem os seus objectivos.

As necessidades desses homens sobrepõem-se às liberdades individuais e à noção de Justiça, que são ideias fulcrais e conferidas a todos os seres humanos. O filme é fabuloso no sentido em que nos oferece uma visão privilegiada sobre um dos desejos inatos mais marcantes no ser humano: o seu desejo de poder e a corrupção que lhe está associada. Além de uma soberba realização de Stone, o filme conta com interpretações sólidas de Kevin Costner e Tommy Lee Jones (que recebeu uma nomeação da academia pela sua interpretação de Clay Shaw), entre outros. Costner efectua a melhor e mais memorável representação da sua carreira até ao momento, interpretando Jim Garrison como um homem apaixonado por uma causa, que é teimoso e está irritado por os seus filhos crescerem num país onde o governo mente ao povo e o priva dos seus direitos mais essenciais. A sua demanda pela verdade constitui o motor do filme. Destaco também a banda sonora de John Williams, que complementa de um modo bastante eficaz a complexidade visual do filme, ao mesmo tempo que realça a mensagem que Stone nos quer transmitir.
Acima de tudo, JFK é um filme que nos faz pensar sobre o mundo em que vivemos, onde a verdade constitui uma ameaça ao poder e onde os interesses de alguns ditam o rumo da política mundial, com as consequências trágicas que daí resultam. Stone experimentou tudo isso em primeira mão (tendo ele próprio combatido no Vietname) e tentou mais tarde expor nos seus filmes, não só as origens e as consequências dessas duas tragédias americanas (o assassinato de JFK e a guerra do Vietname), mas também retratar um período de tempo em que a América perdeu a sua inocência.
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